A ENXADA VELHA
No lugar onde vivo, terra de gentes do campo, dois homens, de imortal saúde, dedicam-se à arte agrícola. Desde os seus 10, 11 anos, talvez, idade que os calos e as rugas já deixaram de precisar, cada um em sua bicicleta, emprestadas por seus pais, senhores da pastorícia e da lavoura, como dois irmãos, pedalavam de aldeia em aldeia. Pouco mais ofereciam que a moldura de um corpo pronto a ser talhado, na dureza dos tempos, e as mãos tenras que se esculpiam nos caprichos da natureza. Prometiam outros feitos mas prometidos aos afetos, da experiência, confiou-se-lhes fiel amiga, a enxada, a que juraram eterna obediência. Apenas ela os separava, e apenas ela os unia, à mãe das mães, à filha de uma vida. Nasceram premeditados e de contrato com o destino já assinado, restava-lhes cumprir, religiosamente, cláusula única, igual à de tanta outra gente. Deitados à mesma sorte, sem nunca o prejuízo contar, de olhar benjamim, o mesmo que conservam, além dos anos, revela o tímido sorriso qu...