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A mostrar mensagens de outubro, 2022

TIRANIAS DE ALGIBEIRA

            Opressor, déspota, aquele que abusa da autoridade para vexar os que dele dependem, é o que encontramos por aí, e também no dicionário, e cada vez mais aqui e ali, como se de um elemento natural se tratasse, como as heras que ofuscam a beleza da natureza que cobrem, também aquele espécime tolda a força da democracia. Pequenas incubadoras onde, num nicho de medo e opressão, fermentam pequenos tiranos de algibeira, daqueles que nem numa carteira da feira da ladra teriam lugar mas que se fazem enraizar nas profundezas da fragilidade humana, nas vazias cavernas da Lei. São uma espécie indiferenciada, de estatura média, habitualmente afáveis e prestáveis, capazes de numa prometida bondade adiada oferecer responsabilidade, compromisso, perspetiva de futuro àqueles mais incautos que hipotecam num cheque em branco a miragem de um amanhã a troco do presente agrilhoado em plumas. O Estado de direito tem-se delegado enquanto subescritor tácito dos direitos e ativo legislador dos de

O OUTONO

            Chegou o Outono, a terna estação que nos conforta do êxtase do verão e nos afaga a alma para a austeridade do inverno. És conciliador, és moderado, és a força da juventude e a beleza da idade. Os verdes revigoram-se no dourado brilho do sol, no seu crescente crepúsculo, sorrindo para um novo ciclo de esperança, acenando saudosos para um novo amanhã. Os castanhos, esses, agora aveludados, nas suas rugas se engelham com a expressão madura da tolerância, o olhar suave dos tempos fixado num horizonte ao entardecer. És tu Outono, ponderado e mediador nesse equinócio que restabelece a temperança do equilíbrio entre a intensidade da luz e a extensão da sombra, pois se no breu nada se vê, também na claridade excessiva pouco se enxergará. Tu, Outono, és o raio que intercala as nuvens, que irrompe a nébula e nos promete a vida. És o desassossego quando o chilrear dos pássaros se volta a confundir com os sons das crianças, desses espíritos livres que regressam às escolas. Cantarolam,

A ORGÂNICA DA MOBILIDADE

            Relatava Eça de Queirós, em Coimbra de Antero , o entusiamo e novidade que a evolução na mobilidade representava à época, «pelos caminhos de ferro, que tinham aberto a Península, rompiam cada dia, descendo da França e da Alemanha, torrentes de coisas novas, ideias, sistemas, estéticas, formas, sentimentos, interesses humanitários… Cada manhã trazia a sua revelação, como um Sol que fosse novo». Foi uma revolução para a sociedade da época, o caminho de ferro era o expoente da mobilidade, e não só, ia mais além do transporte de meros corpos, transportava tendências, transportava cultura, transportava mundividência, transportava a (re)evolução. A ferrovia transformou-se num fluxo orgânico de um organismo maior, superior, a organização social e a sua natural interdependência. Compreendemos o retrocesso que nos foi possível alcançar até aos dias de hoje, em que a descrição apresentada por Eça, não passa agora de um retrato a preto e branco de uma imagem distante. Se concebermos