O OUTONO

         Chegou o Outono, a terna estação que nos conforta do êxtase do verão e nos afaga a alma para a austeridade do inverno. És conciliador, és moderado, és a força da juventude e a beleza da idade. Os verdes revigoram-se no dourado brilho do sol, no seu crescente crepúsculo, sorrindo para um novo ciclo de esperança, acenando saudosos para um novo amanhã. Os castanhos, esses, agora aveludados, nas suas rugas se engelham com a expressão madura da tolerância, o olhar suave dos tempos fixado num horizonte ao entardecer. És tu Outono, ponderado e mediador nesse equinócio que restabelece a temperança do equilíbrio entre a intensidade da luz e a extensão da sombra, pois se no breu nada se vê, também na claridade excessiva pouco se enxergará. Tu, Outono, és o raio que intercala as nuvens, que irrompe a nébula e nos promete a vida. És o desassossego quando o chilrear dos pássaros se volta a confundir com os sons das crianças, desses espíritos livres que regressam às escolas. Cantarolam, gritam, correm, são o animus que anima as memórias, as histórias, as gentes que das muitas primaveras contemplam agora os escassos Outonos. És o sossego das noites que se alongam, enquanto as chaminés iniciam o seu labor, o conforto das lareiras quentes, e o carinho dos serões que se iniciam, em torno dos profundos diálogos, e eternos silêncios, que os muitos Outonos confessam às ainda contáveis primaveras. Estação de cinco sentidos, em ti vemos os pastéis duma pintura a óleo, o arco-íris acena-nos, os suores das terras cansadas perfumam-nos o olfato, o sussurrar do vento, o craquelar das folhas secas afinam acordes aos nossos ouvidos, o sentido dos abraços do reencontro, do beijo repenicado ao toque no rosto esfriado aprovam o tato dos afetos, enquanto o paladar se deixar conquistar na paleta de sabores que aquecem a alma e alimentam o espírito. O dia recolhe-se discretamente, a noite expressa-se silenciosamente, e a Lua reflete agora aquele que foi um Sol intenso. Estamos no Outono.

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