A Verdade (Carlos Drummond de Andrade)


A porta da verdade estava aberta,
Mas só deixava passar
Meia pessoa de cada vez.
Assim não era possível atingir toda a verdade,
Porque a meia pessoa que entrava
Só trazia o perfil de meia verdade,
E a sua segunda metade
Voltava igualmente com meios perfis
E os meios perfis não coincidiam verdade...
Arrebentaram a porta.
Derrubaram a porta,
Chegaram ao lugar luminoso
Onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em metades
Diferentes uma da outra.
Chegou-se a discutir qual
a metade mais bela.
Nenhuma das duas era totalmente bela
E carecia optar.
Cada um optou conforme
Seu capricho,
sua ilusão,
sua miopia.

Comentários

  1. Esta breve leitura, exortou me uma reflexão concisa.
    Onde pode ser interpretada por varias formas de “miopia”.
    Na minha ilusão, assemelhei a uma realidade, que muitas das vezes confrontamos com a
    Verdadeira realidade da pessoa.
    Nunca conhecemos as pessoas na sua totalidade. Na medida que a porta esta aberta, as pessoas só entram por metade. O que significa que só entra meia verdade, e que revelam meias verdades. Algumas meias verdades podem se tornar em mentiras absolutas. Por mais tempo que passe nunca conhecemos as pessoas na sua veracidade.
    Carla
    obrigada!!! beijos

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  2. Eu é que agradeço! Neste contexto não conseguirei contrariar o que disse, mas dentro do próprio contexto não ignoremos que também esta reflexão se trata de uma meia verdade. Cabe-nos a nós, escolher a melhor verdade! :) Beijos!

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  3. ola se não for muito abusivo da minha parte, gostaria de saber o significado da essência deste texto para ti... ou melhor qual é a tua vertente de meia ou inteira verdade???
    beijos
    Carla

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  4. Olá! Este texto pode ser entendido como a minha verdade, a metade que escolhi conscientemente, a forma como leio o mundo e reajo sobre ele. Gosto sobretudo neste texto, da ideia que já partilhava, do seu carácter global (que se aplica na generalidade). O facto de todos ter-mos opiniões diferentes (até opostas) sobre qualquer parte do meio que nos rodeia, não implica que um esteja errado e outro certo. Talvez ambos estejam certos ou errados, pois ambos ignoram a realidade na sua totalidade. Esta característica intrínseca de impotência para absorver o objecto (realidade num todo), leva a que cada indivíduo tire conclusões apenas no que vê, ou seja, estando a analisar peças de um mesmo puzzle. Pensamos assim: se tu estiveres num ângulo de 90graus à minha distância e tivermos um paralelepípedo à nossa frente aquilo que poderás ver será uma das faces que - o rectângulo, já eu, verei o quadrado e ambos descrevemos nas nossas opiniões o que vimos. Nenhum dos dois está necessariamente errado, apenas não conseguimos vê-lo como um todo. Isto, pressupõe que o ser humano é limitado na sua visão, consequentemente será também limitado quando opina. Sabendo isso, cabe-nos a nós ter em consideração a opinião do outro mesmo que nos pareça absurda e procurar a melhor perspectiva de ver o mundo, um mundo que nos agrade e também isto implica a forma como vê-mos os outros no teu comentário. Beijinhos!!

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  5. Aludindo ao teu primeiro comentário, poderíamos considerar a outra metade. A metade em que vivemos num mundo dinâmico, em constante e acelerado movimento e que o homem faz parte também desse mundo, que procurando um equilíbrio se transforma para o acompanhar. Ou seja, se isto acontecer, na verdade do que serei amanhã, será diferente da verdade do que sou hoje. E não poderemos dizer amanhã que a nossa verdade sobre certa pessoa estava errada, apenas deixou de a ser. Juntando estas duas metades, na nossa humilde visão, poderemos ter uma opinião mais completa, verdadeira. (outra meia verdade) Que achas? Beijinhos!!

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  6. O Homem é um ser insatisfeito, sendo o Homem insatisfeito é necessário que o mundo seja dinâmico e que ele acompanhe esse dinamismo.
    Por isso, eu acho que o que ele foi ontem não é hoje e não será amanha, tendo essa visão concordo contigo sobre a meia verdade do Homem.
    Só um aparte o Homem é como uma ciência, a teoria de ontem não é a de hoje.
    Ambas juntas poderão ser uma completa verdade? ou serão uma verdade empírica?
    Beijinhos!!!
    Carla

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  7. Serão necessariamente uma verdade empírica, pelo que acredito que o homem\mulher ainda é demasiado pequeno para compreender o mundo no seu todo. O conceito de verdade completa que dou, é o mesmo de perfeição, ela não existe mas nos impede de encontrar algo que excede as nossas expectativas e dizer: "Isto é perfeito!". Não existe uma verdade completa, mas existe a completa verdade na nossa opinião, depois de juntarmos todas as nossas percepções, temos uma verdade.
    Ao conceito de meia verdade é que, a nossa completa verdade comparada com a realidade divergirá sempre no seu capricho, na sua ilusão ou miopia…
    Mais, como poderia estar um homem satisfeito com o mundo que lhe foi dado? Um mundo em constante agressão? Na procura de o mudar, acaba por se mudar também. Ninguém procura viver só… Beijinhos!!

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  8. Esta última conclusão é influenciada por outras verdades noutros contextos, estando todos eles interligados. Parti do princípio que todos agimos sempre no melhor que sabemos... Bj!

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  9. Esta é a definição, mas presente em mim ...
    Segundo Platão a verdade tem que ser racional e irrefutável, clara e precisa e válida independentemente do espaço e do tempo para ser aceita como verdadeira.
    Platão

    Não digo que não existam meias verdades, existe a outra que fica camuflada da qual acredito que seja a omissão...
    Quando falo na insatisfação do homem esta direccionada com o crescimento intelectual e não exactamente material. porque se for a pensar na insatisfação digo-te sinceramente não há verdade nem meia verdade, neste caso quem vence é a mentira e a manipulação do homem sobre o outro para chegar ao topo ...:)
    beijinhos
    Carla

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  10. Olá! No post anterior enganei-me, ao escrever, esqueci de uma palavra que talvez tirou o sentido da frase: "...O conceito de verdade completa que dou, é o mesmo de perfeição, ela não existe mas não nos impede de encontrar algo que excede as nossas expectativas e dizer: Isto é perfeito!..."
    Agora,
    A verdade que acreditas, é muito boa, mas para quem e para quê? Os conceitos são uma criação do homem\mulher, pelo que devem servi-lo e não o homem estar ao serviço deles. Digo isto porque acredito, que se, tiver em conta a tua verdade e viver segundo ela, não me conseguirei mexer, porque tudo o que conheço como verdadeiro é refutável, o mundo desmoronará constantemente, esse teu belo conceito não passa de isso mesmo “belo”, porque para outros e não necessariamente para ti, ele é refutável. Segundo Karl Popper:
    ("Nunca podemos ter a certeza absoluta de que a nossa teoria não esteja perdida. A única coisa que podemos fazer é procurar o conteúdo de falsidade da nossa melhor teoria, o que realizamos tentando refutá-la, isto é, tentando contrastá-la de um modo vigoroso à luz de todos os nossos conhecimentos objectivos e de toda a nossa inteligência. Há sempre, naturalmente, a possibilidade de que a teoria seja falsa ainda que saia airosamente de todos esses contrastes. Se sai airosa de todos estes contrastes, podemos ter boas razões para supor que a nossa teoria, que, como sabemos, possui um conteúdo de verdade superior ao da sua predecessora, possa não possuir um conteúdo de falsidade maior.
    Porém, se não conseguirmos refutar as novas teorias, especialmente nos domínios em que a sua antecessora tenha sido refutada, então podemos considerar isto como uma das razões objectivas a favor da hipótese de que a nova teoria constitua uma aproximação da verdade maior do que a anterior.
    (...)Em conclusão: nunca podemos justificar racionalmente uma teoria, isto é, a pretensão de que conhecemos a sua verdade, mas, se tivermos sorte, podemos justificar racionalmente a preferência provisória por uma teoria sobre todo um conjunto de teorias rivais.
    (...) Ainda que não possamos justificar a pretensão de que uma teoria seja verdadeira, podemos justificar que tudo parece indicar que a teoria constitui uma aproximação da verdade maior do que qualquer das teorias rivais propostas até ao momento." Popper, Conhecimento Objectivo, Technos, Madrid: 83/84)

    Por outras palavras, diria que falas de utopia, mas mesmo a utopia tem um propósito, o de nos estimular a andar, caminhar…
    Se passar a vida à procura de pelo menos uma só verdade, provavelmente viverei sem a ter encontrado e deixarei de viver para a encontrar… conheces algum conceito que seja aceite como verdadeiro para todos?!
    Outrah! Achas-te perfeitamente capaz de entender o mundo no seu todo? Se sim, não precisarias de aprender mais… se não, como podes ter a certeza que a tua verdade é completa uma vez que não dispões da informação toda nem sabes que parte dela falta, ou capacidade de a processar?
    Quanto à segunda parte do texto, acho que tens razão! :) Beijinhos!!

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  11. Também é verdade, que o que escrevo aqui, não tem de ser necessariamente a forma como ajo no dia-a-dia. Aqui simplesmente estou a ignorar um enorme conjunto de variáveis que estarão presentes no momento de agir. Os conceitos devem-nos servir de apoio para tomar uma decisão, só isso. Bj!

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  12. Mas diz-me o que tu achas dos 2 últimos comentários... às vezes a forma mais agressiva com que debato, é no sentido de construir uma melhor verdade. Uma verdade minha que inclua a tua, uma verdade mais próxima da verdade. Beijinhos!!

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  13. O mundo na minha visão é como um todo, porque não posso e não tenho capacidade em dividi-lo em partes. Segundo Köhlder, o resultado da forma (Mundo) com as diferentes componentes de uma figura se organiza num todo, o todo não é a soma das partes na realidade organiza-se segundo determinadas leis.
    Para Platão, o grau máximo de realidade (mundo) está em pensarmos com a razão. Para Aristóteles, ao contrário, era evidente que o grau máximo de realidade está em percebermos ou sentirmos (mundo) com os sentidos. Platão considera tudo o que vemos ao nosso redor na natureza meros reflexos de algo que existe no mundo das idéias e, por conseguinte, também na alma humana. Aristóteles achava exatamente o contrário: o que existe na alma humana nada mais é do que reflexos dos objectos da natureza. Para Aristóteles, Platão foi prisioneiro de uma visão mítica do mundo, que confundia as idéias dos homens com a realidade do mundo.
    CONSCIÊNCIA DA PLURALIDADE
    NÃO SEI QUEM SOU, que alma tenho.
    Quando falo com sinceridade não sei com que sinceridade falo. Sou variamente outro do que um eu que não sei se existe (se é esses outros).
    Sinto crenças que não tenho. Enlevam-me ânsias que repudio. A minha perpétua atenção sobre mim perpetuamente me ponta traições de alma a um carácter que talvez eu não tenha, nem ela julga que eu tenha.
    Sinto-me múltiplo. Sou como um quarto com inúmeros espelhos fantásticos que torcem para reflexões falsas uma única anterior realidade que não está em nenhuma e está em todas.
    Como o panteísta se sente árvore [?] e até a flor, eu sinto-me vários seres. Sinto-me viver vidas alheias, em mim, incompletamente, como se o meu ser participasse de todos os homens, incompletamente de cada [?], por uma suma de não-eus sintetizados num eu postiço.
    Sê plural como o universo!
    Fernando Pessoa
    Beijinhos
    Carla

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  14. Espero que vá ao encontro ao teu comentário.
    Aguardo agora a tua opinião!
    beijinhos!!
    Carla

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  15. ... tiveste problemas com o e-mail? porque eu não recebi nada. Beijinhos!!

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