Guerra da Água (Parte II)

Não, e a prova de tal fica um pouco mais a oriente no sudeste asiático. Na Tailândia, grande parte das águas provenientes das barragens servem para «alimentar» os campos de golfe das zonas turísticas. Enquanto os campos de golfe se encharcam com água, nas difíceis terras de cultivo e nas pobres províncias todas as famílias trabalham no campo, desde os mais novos aos mais velhos, mas sem êxito, pois para que as culturas se desenvolvam é necessária água mas essa apenas serve para satisfazer os luxuosos interesses governamentais. As pessoas morrem de fome enquanto nas grandes cidades os industriais gozam da protecção do governo. Desde que se construiu a barragem no rio Mone os pequenos pescadores apenas conseguem pescar peixes de reduzidas dimensões. Das 200 espécies apenas 10 a 12 sobrevivem e rendem aos pequenos pescadores 20€ mensais. Esta barragem foi um autêntico fracasso, pois o seu efeito, supostamente positivo, no desenvolvimento da sociedade naquela zona, foi precisamente contrário. O rei tailandez mostra as suas barragens e planos nas notas tailandesas, é graças a pequenas organizações que lutam pela preservação dos rios que muitos destes planos não avançam. Os povos das terras baixas reúnem-se várias vezes por ano no âmbito de tentarem fazer com que os povos das montanhas migrem para as zonas baixas, pois segundo eles estes povos são os culpados da água não chegar às terras mais baixas. Os povos da montanha destroem pequenas áreas de floresta queimando árvores, utilizam as cinzas para cultivarem as suas pequenas culturas deixando o solo seco e pobre a nível de nutrientes, para que futura vegetação possa crescer, fazendo com que a água das chuvas não penetre no solo. A grande cidade Bangkok devido ao seu grande desenvolvimento tem cada vez menos água potável. A incrível quantidade de esgotos e as fábricas de curtumes mesmo junto às margens do rio são os principais poluidores. As substâncias utilizadas nas fábricas são altamente tóxicas para o ambiente, no entanto escorrem livremente para o rio. A desculpa dada pelos donos destas fábricas em não comprarem aparelhos capazes de filtrarem as impurezas dos materiais despejados é que a compra de um desses filtros envolve custos elevados.
Todos estes problemas criados pela existência ou não de água não se ficam por aqui.
Um outro exemplo igualmente preocupante é a situação vivida no México.
Em Istapalapa, os subúrbios da cidade mais importante (Cidade do México), camiões cisterna servem as casas uma a uma, com água.
As pessoas estão revoltadas e desesperadas pois a água ali existente vai toda para a grande cidade. Nos bairros dos ricos existe água com abundância, têm cerca de 10000l ao seu dispor enquanto os pobres se contentam com 40l. As plantações e pomares nos arredores encontram-se secos. Cerca de um milhão e meio de litros são bombeados para a cidade para abastecer as casas, mais propriamente para lavar os carros e regar os jardins dos ricos. As maiores condutas do mundo partem desta cidade até às águas do Vale do México. As péssimas condições da rede de canalizações que se encontra de tal forma degradada, faz com que haja furos e rebentamentos quase uma vez por dia. A manutenção não é feita e perde-se então 40% da água potável. A desidratação do solo devido à extracção de água já fez com que a cidade se tenha afundado 9m em três anos. A fachada da catedral mais importante já desceu 10m e o seu interior é suportado por andaimes. A Cidade do México é uma máscara do seu país, escondendo a pobreza e os problemas causados pela falta de água que mata centenas de pessoas por ano. Graças a esta triste realidade não é de admirar que no México muitos subúrbios, aldeias, vilas e outros aglomerados habitacionais sejam abastecidos não com ÁGUA mas sim com COCA COLA.Deixo aqui exemplos vivos das consequências dos nossos excessos, numa tentativa de alertar os mais consumidores e despreocupados com o consumo e gasto abusivo dos recursos naturais que temos, sobretudo o bem mais precioso… A Água!

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