MAL DE DINHEIRO

Entre queixas, manifestações, desemprego, injustiça e má governação constatamos que todas essas maleitas permanecem e estranhamente perduram, assumindo os mesmos moldes mas com maior intensidade… Vejamos que agora há mais queixas, mais manifestações, mais desemprego, uma maior injustiça, anteriormente autoritária agora capitalista (entenda-se, a favor do capital) e claro, cada vez mais, pior governação. Toda esta desconcertação social e económica leva a que males maiores se ergam de modo a obrarem, concertadamente, contra a sociedade, contra o crescimento estável e sustentável (houvesse, também aqui, uma Autoridade da Concorrência). Estranhos fenómenos se insurgem na realidade que julgávamos conhecer…
A Economia (ciência social), em inglês Economics, é agora confundida pelos políticos com a Economy, (poupança), em português também Economia, digamos que fazendo uma analogia ao acordo ortográfico, cai o social e mantém-se a ciência. Estrangeirismos! Aparentemente nada haverá de mal numa ligeira confusão de significados… ou haverá?
Conversava eu com uns amigos, sobre o actual estado (anárquico) da economia (ciência social), conspirando e suspirando quanto a possíveis melhorias e as irregularidades no caminho para uma situação futura mais próspera, quando um desses meus amigos lamenta-se dizendo que está mal de dinheiro. Mal de dinheiro! Sim, foi isso que percebeu e eu também, mal de dinheiro, a doença, a peste negra do século XXI. Não sou médico, embora de médico e de louco todos temos um pouco, pelo que penso que me seja permitido realizar uma história clínica quanto a esta epidemia.
O mal de dinheiro apesar de ser uma maleita que atravessa gerações, tem-se intensificado e agravado neste quarto de século com a chegada da crise financeira, dura e duradoura que tem afectado os portugueses e todo o planeta, se bem que com o mal dos outros podemos nós bem. Os sintomas quase sempre surgem sorrateiramente e sem nos apercebermos, damos por nós a arranhar o fundo dos bolsos em busca de escassos cêntimos, do mais pequeno «cobre lívido e oxidado», que não existe nem na carteira, nem na conta bancária. A roupa começa a ficar puída, as refeições repetitivas e as contas para pagar parecem-nos cada vez mais e maiores, os preços em escalada, dislexia política e eis então os sintomas mais típicos duma crise financeira, os ricos a ressentirem-se de hiper riqueza e os pobres com tremores derivados de hipo pobreza. É oficial, contraímos mal de dinheiro! Há pois que assegurar que não se vai alastrar ou tão pouco derivar em outras doenças não menos graves. Alguns de nós acabam por contrair desemprego, a outras formas de existência é-lhes diagnosticada insuficiência nalguns órgãos, identificada como falência e casos mais extremos acabam mesmo por degenerar em pobreza. Os exames a realizar, quando oportunamente são cirúrgicos quando tardiamente, como em qualquer doença, já pouco poderão ajudar. É importante nos casos mais graves, realizar uma biopsia à máquina estatal, uma endoscopia estrutural aos organismos e contas públicas, um electrocardiograma às entidades empregadoras, um raio x ao sector bancário e um hemograma às exportações. Esperemos que não tenham tardado! O diagnóstico é bastante reservado. Torna-se assim difícil evitar situações de maior gravidade e acabam por se verificar alguns casos de entradas em coma…
A doença agravou-se, o estado clínico é grave e o leque de tratamentos possíveis para inverter a situação, não é dos mais vastos. Distinguem-se então aqui os médicos que optam por um tratamento menos dispendioso e que apenas procura remediar a situação no qual realizam apenas algumas injecções de capital, cortes de bisturi em subsídios de férias e de Natal ou amputações na saúde e educação e aumentam a dosagem já elevada de impostos. Outros há que tentam algo mais incisivo como sejam alguns estímulos com subsídios de desemprego, algumas vitaminas receitadas aos privados ou até suturar algumas feridas abertas na despesa pública. Felizmente e por fim encontramos os médicos que sem hesitar apontam de imediato um tratamento de choque, uma autêntica inversão do sentido, imediatamente com uma cirurgia profunda e estrutural no corpo do Estado, acompanhada de uma lipoaspiração às gorduras em excesso na despesa pública, estímulos ao emprego e uma verdadeira operação no desemprego, a recomendação do uso de muletas que evitem desequilíbrios, sobretudo desequilíbrios sociais, assim como a recomendação de um bom nutricionista que ajude a combater a obesidade causada pelo excesso de consumo de importações, reduzindo nestas e aumentando as exportações acompanhados também por um reforço na medicação da saúde e da educação e alguma fisioterapia para o aumento da produtividade, seriam o tratamento mais adequado e orientado para fazer face a este mal de dinheiro.
Resta-nos saber com que médico será a nossa consulta!

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