Emprego e Serviço Público de Emprego
A propósito de
emprego e do serviço público de emprego.
Ocorreram
recentemente as conhecidas mudanças políticas ao nível da governação de
Portugal. O atual Ministro das Finanças demonstrou já a sua preocupação e
particular interesse com a situação do (des)emprego e sua evolução.
A empregabilidade em Portugal sempre
conheceu registos simpáticos tendo em conta as taxas de desemprego por cá
verificadas. Consideramos que este país tem sido intensivo em capital humano
nas suas atividades económicas, contribuindo assim para valores de desemprego
reduzidos bem diferentes daqueles a que nos habituámos involuntariamente nestes
últimos anos.
Fonte: Banco de Portugal - http://tinyurl.com/hzywrjj
Ao
longo da nossa história democrática, experimentámos taxas de desemprego relativamente
baixas. Observando o gráfico acima, entrando certamente nestes valores o desemprego
crónico e voluntário apresenta-se que entre 1998 com um valor de 5,8% e 2008
com cerca de 7,2%, houve uma flutuação desta taxa no sentido desfavorável ao
desemprego, caindo para os 3,7% no segundo trimestre de 2000. Contrariamente à
tendência subiu um pouco até os 8,4% no primeiro trimestre de 2007, sentiam-se
aqui os primeiros sintomas daquela que viria a ser umas das maiores crises
financeiras por que passaríamos.
Efetivamente
a empregabilidade observada ainda que positiva era pouco representativa de
qualidade de vida dentro da sociedade, acontecia pois devido aos reduzidos
salários tornando-nos uma mais-valia para o investimento estrangeiro não pela
qualidade (embora reconhecida) do capital humano cá existente mas sim pelo seu
reduzido custo. Certo é que em termos comparativos com outros países europeus a
produtividade da nossa mão-de-obra era e continua a ser bastante inferior, o
que para as entidades empregadoras representa uma “perda de gás”, o que por seu
lado poderia ser (ou não) ultrapassado através de uma política de salários de
eficiência. Entramos então numa discussão que rivaliza com a questão – “o que
surgiu primeiro, o ovo ou a galinha?” – ao que podemos ajustar e questionar se
o problema se situa na debilitada produtividade da força de trabalho ou na
ausência de salários de eficiência.
Regressando
ao tema, o atual Governo antevê o estudo de novos apoios às empresas, novas
medidas de incentivo ao emprego, aumento do salário mínimo entre outras a serem
equacionadas. Mas e se o problema não se situar aqui?! E se o epicentro estiver
localizado noutro ponto? E se na verdade, o que se verifica é um mismatch entre a procura e a oferta de
emprego?
Creio que o
centro nevrálgico do nosso problema com o emprego e consequentemente com o
desemprego se possa situar num desencontro entre aquilo que são as necessidades
do mercado de trabalho, a mão-de-obra e know-how
disponível e o cumprimento das regras laborais e valores sociais. O serviço público
de emprego é esse mediador embora, por força da redução de técnicos e do pressing das metas estatísticas seja um
elemento passivo neste ciclo, onde se dá mão ao desemprego e a carteira às
entidades empregadoras. Se verificarmos o impacto das medidas de apoio à
criação de emprego, descobrimos quão residuais elas são. Ao olharmos para o
impacto do match efetivo entre
ofertas de emprego e candidatos cujo denominador comum são as medidas de apoio
à contratação (estágios e estímulos) que contribuem (cada vez menos) numa
primeira e segunda instância para a acumulação de capital privado e só por fim
para o aumento do emprego e por este meio imperativo das estatísticas, se
alimenta a reduzida produtividade e perpétua ausência de salários de
eficiência.
Vários países da
Europa com dimensão populacional idêntica à nossa permitem apenas que ofertas
de emprego sejam anunciadas no portal/serviço público de emprego, por outro
lado países de maiores dimensões possuem o seu serviço público de emprego mas
várias são as agências e portais privados que cruzam os lados da oferta e da
procura. Também aqui se revela uma característica muito nossa, a de copiar bons
exemplos com maus vícios e é também aqui que a meu ver reside o problema da
questão. Portugal enquanto país de reduzida dimensão e habitantes deveria adotar
como política pró-emprego, desde logo e ponto de partida com o reforço das
competências bem como dos recursos humanos do serviço público de emprego. Este
serviço, mais do que um mero distribuidor de apoios, deverá ser um regulador
fazendo a verificação dos candidatos e seus perfis, bem como a observação,
identificação e cadastro das entidades privadas que procuram contratar. Um
controlo sobre as ofertas e o conteúdo das mesmas revela-se urgente, focando
sobretudo aspetos como discriminação de género, limites de idade, limites
geográficos, condições salariais e horárias. De igual modo assegurar também às
entidades empregadoras o acesso a perfis adequados e devidamente creditados sob
pena de eventual penalização no decurso de falsas declarações. Neste ponto as
agências de emprego ocupariam o lugar devido, servindo como uma extensão no
processo de correspondência entre candidatos e entidades e não desempenhando
uma função quase concorrencial ao próprio serviço público, também sob o olhar
atento e os requisitos definidos por este último.
Centenas de
cv’s são enviados por milhares de desempregados (e não só) para as empresas de
recrutamento, as suas informações privadas são partilhadas com dezenas de
pessoas até conseguirem uma entrevista, também a este nível estariam
salvaguardados os dados pessoais, bem como o respeito pelos mesmos, daqueles
que procuram emprego e por fim um melhor controlo das condições laborais via
sinergias desenvolvidas entre serviço público de emprego e autoridade para as
condições do trabalho (ACT).
Resumindo
este processo ou reformulação daquela que é a atuação do serviço público de
emprego perante o atual flagelo do desemprego, teríamos uma maior coordenação
entre candidatos a emprego, entidades privadas e serviço público, um controlo
rigoroso das ofertas anunciadas, bem como dos perfis candidatos, uma delegação
de competências a agências/empresas de recrutamento no match entre os candidatos e as ofertas respetivas, sob a supervisão
do serviço público que por sua vez, permitira uma oferta formativa mais
adequada e direcionada às exigências do mercado e perfis em bolsa. Havendo
também um controlo mais rigoroso, em coordenação com a ACT, das condições
laborais. Uma organização neste sentido, permitiria exigir ou responsabilizar
candidatos a emprego e entidades privadas, bem como potenciar e contribuir para
o aumento da produtividade da mão-de-obra disponível e por sua vez, aumentar a
acumulação do capital privado, contribuindo assim para o aumento dos salários
reais por intermédio de uma convergência mais eficiente entre oferta e procura
de emprego.
Mais
do que uma mera entrega de apoios às entidades privadas e um serviço de emprego
amorfo, é necessária uma reação aos níveis de desemprego atual e uma postura
proactiva na defesa e promoção de condições de trabalho dignas, responsáveis e
justas, bem como numa comunicação mais clara e eficiente entre aqueles que
procuram emprego e as entidades que os procuram acolher, contribuindo assim
para uma redução de custos com recrutamento e formação de novos contratados por
parte das empresas e redução de custos por parte daqueles que se encontram
desempregados e necessitam realizar deslocações dispendiosas para se
apresentarem em entrevistas (podendo também aqui iniciar-se uma outra
discussão). O serviço público de emprego deve ser protetor de todas as partes
envolvidas promovendo, tal como sugere, o emprego ao invés de auxiliar no
desemprego!
by Filipe Cortesão
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