Ternura da Serra

Deslizo o meu olhar,
Por essas curvas,
Como sinto o tocar,
De tão ternas rugas;

De contornos diversos,
Mais do que um esboço,
Um traço de afetos,
Desenha-se um rosto;

Contempla seriamente,
Recantos com história,
Contemplados serenamente,
Pelos tempos da memória;

Cores, cheiros e formas,
Escaras, sinais e feitios,
Unem como nas somas,
Os divinos e os gentios;

Sente-se a comunhão,
Em enleada simbiose,
Dois estranhos dão a mão,
Numa cúmplice hipnose;

E se a tela deixa o pincel,
E se as cores secam na paleta,
E se o lápis abandona o papel,
E se a borracha faz que esqueça;

Aqueles dois amantes,
Descobrem-se no olhar,
Os corações distantes,
Anseiam por se encontrar;

E de novo se tocam,
Sentem-se as velhas curvas,
E enquanto se recordam,
Sentem-se as novas rugas;

Cai o manto branco,
Escondem-se as verduras,
Como no altar o santo,
Acolhe as almas suas;

Cantam um único fado,
Nessa reunião fraterna,
Caminham lado a lado,
De aliança eterna;

by Filipe Cortesão

Comentários

Mensagens populares deste blogue

TIRANIAS DE ALGIBEIRA

O ERRO DOS RECURSOS HUMANOS

O OUTONO